sexta-feira, agosto 13, 2010

Um legado com futuro?

Morreu no fim-de-semana o notável historiador Tony Judt (são imperdíveis as suas crónicas autobiográficas que o New York Review of Books disponibiliza online). Consciente da sua curta esperança de vida, quis deixar "Ill Fares the Land" como testemunho social-democrata. O principal problema do livro reside aqui. A social-democracia que Judt defende nada tem a ver, por exemplo, com a de Donald Sassoon, que nos mostra um movimento marcado por sucessivos processos de modernização e que sempre soube distinguir os valores dos instrumentos que ao longo do tempo os concretizam. A social-democracia de Judt é rígida e parece ter atingido um estado de perfeição nos 30 anos do pós-guerra que deve ser defendido a todo o custo: "Abandonar os esforços de um século é trair aqueles que nos antecederam bem como os que estão por vir." O Estado Providência está hoje confrontado com conhecidos desafios estruturais, de natureza económica e demográfica. Para Judt, é como se tudo se resumisse a uma questão de discurso, a um problema que pode ser ultrapassado num plano estritamente ideológico. Infelizmente, para a sustentabilidade do Estado Providência, tão perigosas como as receitas neoliberais são as posições imobilistas. "Ill Fares the Land", um testemunho pensado para os jovens, bem podia ser um manifesto eleitoral de sucesso para os mais velhos. Tocqueville, que Judt lembra numa das muitas (e boas) epígrafes, parece mais actual do que nunca: "Não posso deixar de temer que as pessoas cheguem a um ponto em que vêem qualquer nova teoria como um perigo, qualquer inovação como um problema [...] e que possam recusar qualquer movimento."
publicado hoje no i.