domingo, março 13, 2011

Uma missão impossível

Uma missão impossível
A Europa não tem perdido uma oportunidade para perder a oportunidade e o governo português tem aproveitado todas as oportunidades para nacionalizar a crise.
Após ter começado por subvalorizar o impacto da crise, para depois defender que o pior já tinha passado e, mais recentemente, afirmar que não precisaríamos de auxílio, por termos medidas ‘suficientes e necessárias’, esta semana o governo parece ter caído na realidade. No mesmo dia, Teixeira dos Santos, secundado por Sócrates, abriu a porta a medidas adicionais e sugeriu que o esforço nacional seria em vão se a Europa não fizesse a sua parte. São bons sinais e estamos perante o reconhecimento de duas evidências.
A capacidade para controlar o défice é escassa: os executivos só dominam a despesa. O governo pode cortar salários, congelar pensões, extinguir o investimento público, racionalizar despesa, mas enquanto a economia alternar entre recessão e crescimentos medíocres, o preço do petróleo disparar e os custos de financiamento forem crescentes, não é possível consolidar as contas públicas. São demasiadas as variáveis que escapam ao seu controlo para que um governo possa afirmar, de modo taxativo, que diminuirá o défice. Pura e simplesmente ninguém pode prever se será necessária mais austeridade para atingir os 4,6% no fim do ano. O que foi exigido aos países da periferia é uma verdadeira missão impossível, assente no pressuposto errado, mas interiorizado pelo governo, de que se deve nacionalizar a crise.
Do mesmo modo, a dramatização em torno do resgate financeiro, tornado uma questão de vida ou de morte política do executivo, colocou-nos num mau caminho. O importante é saber se há vantagens para o financiamento da nossa economia se recorrermos à ajuda externa. Tal como existe hoje, e pensando na Grécia e na Irlanda, o resgate não só não resolve os problemas existentes, como cria novos.
O que demonstra que a austeridade unilateral é contraproducente se a Europa não fizer a sua parte. E a Europa não tem feito a sua parte. Como se não bastasse não reconhecer que o problema dos países da periferia é fruto de uma arquitectura institucional incapaz de lidar com choques assimétricos e dos desequilíbrios de uma moeda única sem política fiscal comum e sem compensação para os excedentes nas trocas comerciais internas, a Europa entregou-se a uma anomia política devastadora. Como escreveu Wolfgang Münchau no Financial Times, “esta crise é tanto alemã como espanhola. Este reconhecimento deve ser o ponto de partida para qualquer sistema eficaz de resolução”.
Deve, mas não tem sido. Percebe-se que os países do centro resistam a aceitar a natureza sistémica da crise do euro como pressuposto negocial, já não se compreende a capitulação política dos países da periferia. Não devemos exagerar o papel das lideranças no curso da história, mas se considerarmos que os países que podiam comandar a reforma da zona euro estão entregues a uma inexistência política (Zapatero) e a um tresloucado (Berlusconi), torna-se mais fácil entender como chegámos aqui. Serve de pouco, mas não se pode deixar de pensar como seria a gestão desta crise com Kohl na Alemanha, González em Espanha e Delors em Bruxelas.