sábado, maio 28, 2011

Não temos mais oportunidades

Na semana passada, Passos Coelho, que é candidato a primeiro-ministro, patrocinou a apresentação de um livro de um professor, bastante crítico da política educativa. Na iniciativa, o autor fez saber que não havia ficado satisfeito com as propostas do programa eleitoral do PSD para o sector, no qual havia colaborado. Numa declaração insólita, Passos Coelho apressou-se a garantir que, perante a insatisfação, “iria melhorar o programa”.
Esta semana, em mais uma tentativa conseguida de introduzir ruído no seu próprio discurso, de novo perante uma audiência de professores, Passos Coelho não se coibiu de descrever o programa Novas Oportunidades como "uma credenciação à ignorância”, para depois ocupar os dias seguintes a reescrever o que havia dito.
Estas declarações revelam um padrão preocupante.
Há uma forte probabilidade de Passos Coelho vir a ser primeiro-ministro. Ora uma coisa básica que um candidato ao cargo devia saber é que, contrariamente ao que a língua-de-pau sugere, não se governa nenhum sector se nos deixarmos capturar pelos interesses da área. O líder do PSD deu um passo de gigante para ficar capturado pelos professores. Não tardará muito a pagar com juros elevados a ilusão de popularidade que agora julga conquistar.
Depois, o essencial. Existe um amplo consenso na sociedade portuguesa que vê nas baixas qualificações dos ativos um obstáculo sério à competitividade da nossa economia. Apesar do diagnóstico estar feito há tempo suficiente, nem por isso fomos capazes de ultrapassar este défice estrutural. Durante muitos anos, optou-se por uma resposta tímida que passou pelo reconhecimento e certificação de competências apenas até ao 9º ano. Entretanto, o país continuava preso ao seu atraso – se continuássemos a progredir ao ritmo a que progredíamos, nem dentro de cem anos recuperaríamos.
Daí a importância das Novas Oportunidades: a primeira tentativa, sustentada por forte vontade política, de reconhecer competências e qualificar ativos, procurando acelerar o ritmo de recuperação do nosso atraso educativo. Naturalmente que um programa que envolve mais de um milhão de pessoas tem problemas. Negá-lo seria um erro. Mas as Novas Oportunidades mostraram que era possível combinar uma estratégia para o futuro (cursos profissionais para jovens e redução do abandono precoce) com uma resposta que não fique à espera que a substituição geracional resolva os nossos défices de qualificações (reconhecendo competências e complementando formação). A forma como o programa foi recebido, com cerca de um milhão e meio de portugueses a candidatarem-se e envolvendo milhares de empresas, revela uma vontade de procurar o conhecimento bastante incomum na sociedade portuguesa.
Dir-me-ão que havia alternativas. Claro que sim, continuarmos a agir lentamente ou apostarmos numa estratégia competitiva assente nos baixos salários e na mão-de-obra pouco qualificada. Julgo que tem ficado provado não termos mais oportunidades para prosseguir qualquer uma destas duas vias.

publicado no Expresso de 21 de Maio